Sujidade em módulos: cálculo, prevenção e futuro da limpeza solar no Brasil
- SOLONTEC

- 20 de ago.
- 3 min de leitura

A ausência de manutenção adequada pode comprometer seriamente tanto a eficiência quanto a rentabilidade de uma usina solar. Surge então a questão: como os serviços especializados de O&M (Operação e Manutenção) podem prevenir esse tipo de perda?
De acordo com uma pesquisa da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), usinas fotovoltaicas chegam a registrar até 15% de queda de eficiência por falhas que poderiam ser evitadas com a manutenção correta.
Outro estudo, publicado em 2023 pelo Portal EngSolar, reforça esse cenário ao destacar a sujidade (soiling) como uma das principais vilãs da performance. Dependendo das condições, a poeira acumulada pode reduzir a geração de energia em 5% a 20%.
Esses números se traduzem em menor produção de energia e queda direta no retorno financeiro dos empreendimentos. Ainda segundo outro levantamento da UFSC, ao analisar o efeito da sujeira nos sistemas, foi constatado que a potência dos inversores pode aumentar até 25% após uma limpeza adequada.
Para aprofundar o tema, em entrevista ao Canal Solar, Rodrigo Kimura, diretor de energia do Grupo CESBE e Giya, explicou como a manutenção tem impacto direto na performance das usinas solares.
“Esse dado confirma a importância da manutenção das usinas fotovoltaicas para que elas operem sempre em sua máxima capacidade e o investidor receba a receita esperada. O problema é que, sem operação e manutenção estruturadas, a perda de eficiência não é visível. A usina continua funcionando, mas os indicadores técnicos mostram quedas que podem representar milhões de reais desperdiçados”, destacou Kimura.
Ele acrescenta ainda que, além do projeto e construção, um plano de manutenção periódico é fundamental para evitar perdas evitáveis.
Estruturas fixas x trackers: há diferença nas perdas?
Na visão de Kimura, a perda causada pela sujidade é semelhante em ambos os sistemas, mas os trackers são mais sensíveis ao acúmulo de sujeira e falhas mecânicas. Como essa tecnologia acompanha o movimento do sol ao longo do dia, qualquer barreira física ou acúmulo de resíduos pode comprometer a movimentação dos módulos e reduzir a captação de irradiação solar.
Embora sistemas com trackers possam gerar em média até 20% mais energia que os fixos, a limpeza e manutenção regulares são essenciais em qualquer modelo, evitando prejuízos tanto na geração quanto na receita.
Subestimação da limpeza pelos investidores
Segundo Kimura, muitos proprietários de sistemas de geração distribuída ainda subestimam a importância da limpeza periódica — muitas vezes pela falta de orientação. Ele observa que parte do mercado está focada apenas na redução da conta de energia e na independência elétrica, mas negligencia a performance ao longo do tempo, o que reduz o retorno do investimento.
Para minimizar perdas já no projeto, o especialista lembra que é possível prever percentuais de sujidade nas simulações energéticas. Atualmente, existem sensores capazes de medir o grau de sujeira nos módulos, auxiliando na decisão do momento ideal para a limpeza. Além disso, o histórico de clima e poeira da região deve ser analisado para definir o intervalo de manutenção mais eficiente e com melhor custo-benefício.
Principais causas das perdas
Além da falta de qualificação técnica e ausência de pós-venda, o descuido do consumidor com a limpeza também pesa nos resultados. Mas, segundo Kimura, há outro fator decisivo:
“A ausência de monitoramento contínuo é crítica. Conectar a usina a um centro de operação permite identificar falhas em tempo real, acionar a equipe com diagnóstico pronto e corrigir problemas rapidamente, evitando que a usina fique parada e gere menos receita.”
Na Giya, por exemplo, as usinas monitoradas têm dezenas de indicadores acompanhados em tempo real pelo centro de operações.
Cuidados adicionais e tecnologias de limpeza
Além das limpezas regulares, Kimura recomenda seguir protocolos técnicos adequados, como usar pressão controlada na água, realizar inspeções periódicas dos módulos e até ajustar a inclinação em regiões com maior acúmulo de poeira.
Outra prática essencial é adotar monitoramento remoto conectado a centrais de operação, permitindo identificar anomalias rapidamente e acionar equipes de campo antes que falhas pequenas se tornem problemas maiores.
Sobre os métodos de limpeza, ele explica que a manual ainda é a mais eficiente e segura, mas reconhece o avanço de tecnologias automatizadas e robóticas. Entretanto, reforça a importância de garantir que qualquer solução utilizada seja homologada pelo fabricante dos módulos, sob risco de perda da garantia.
Conscientização do mercado
Para Kimura, a conscientização está em crescimento, principalmente nas grandes usinas, que já compreendem que o custo da manutenção é menor do que a perda de receita causada pela falta dela.
Apesar disso, ele alerta que ainda há subestimação dos impactos da sujidade e que o setor precisa continuar reforçando com dados concretos a relevância da manutenção e do monitoramento.
“Mais do que despesa, manutenção é investimento: ela prolonga a vida útil do sistema, preserva a garantia dos equipamentos e garante o retorno financeiro do projeto.”
_edited.png)



Comentários